terça-feira, 7 de maio de 2013

Revista de imprensa: Donativos ao Vitória de Guimarães têm benefícios fiscais

Sócio vimaranense, o novo Secretário de Estado do Desporto reconheceu os donativos concedidos ao clube em 2013 ao abrigo do Estatuto dos Benefícios Fiscais (EBF). Na semana passada, Emídio Guerreiro tinha assinado um protocolo de cem mil euros com a Cidade Europeia do Desporto.


Os donativos concedidos este ano ao Vitória Sport Clube para a “realização de actividades ou programas de carácter não profissional consideradas de interesse desportivo”, poderão usufruir de benefícios fiscais. A autorização surge numa declaração publicada esta segunda-feira em Diário da República, assinada pelo novo secretário de Estado do Desporto, Emídio Guerreiro.

O artigo do EBF referente à “dedução para efeitos da determinação do lucro tributável das empresas” obriga as “associações promotoras do desporto e associações dotadas do estatuto de utilidade pública que tenham como objecto o fomento e a prática de actividades desportivas, com excepção das secções participantes em competições desportivas de natureza profissional”, a obter esta declaração junto da tutela antes da obtenção dos donativos.

Para usufruir de benefícios fiscais, os mecenas não podem ter dívidas fiscais ou de contribuições para a Segurança Social no final do ano ou do período de tributação em que o donativo é atribuído, segundo esclarece o despacho assinado a 23 de Abril pelo sucessor de Alexandre Mestre na pasta do Desporto e Juventude.

Eleito em 2011 deputado do PSD pelo círculo eleitoral de Braga, Emídio Guerreiro é sócio do Vitória de Guimarães. O clube que segue actualmente na quinta posição do campeonato nacional emitiu inclusive um comunicado, assinado a 12 de Abril pelo presidente Júlio Mendes, em que se “congratula pela nomeação” deste “associado e membro do Conselho Vitoriano”.

Na passada terça-feira, 30 de Abril, Emídio Guerreiro esteve na “Cidade Berço” para presidir  à cerimónia de assinatura de um protocolo entre o Governo (através do Instituto Português do Desporto e Juventude) e a organização da Guimarães 2013 - Cidade Europeia do Desporto, que assegurou um financiamento público de 100 mil euros para a realização deste evento considerado de interesse público pelo Executivo.


A notícia pode ser consultada aqui.  Fonte: Jornal de Negócios


A notícia supra referida tem suscitado, principal e naturalmente junto de particulares afectos a clubes desportivos antagónicos, indignação relativamente a uma potencial situação de desvio de poder por parte do Secretário de Estado do Desporto. A questão rodeia-se de contornos peculiares, ganhando algum interesse abordá-la à luz do Direito Administrativo.

Os donativos a clubes ou associações - no caso, ao Vitória de Guimarães Sport Clube -, quando com o fim de promover as suas actividades e programas de fomento à prática de desporto, reconduzem-se a um interesse público, numa vertente de interesse desportivo. Em virtude desta "utilidade pública" da doacção, o Estatuto dos Benefícios Tributários, no seu artigo 62º/6/e, que pode ser consultado aqui, estende-lhes certos benefícios fiscais, sujeitos, todavia, a uma declaração de reconhecimento dos donativos como tal pelo órgão tutelar (no presente caso a Secretaria de Estado do Desporto e da Juventudes), acto esse publicado em Diário da República e para o qual a notícia vem chamar a atenção.

Pese a circunstância do Secretário de Estado ser sócio do clube em causa e o acto ter sido praticado poucos dias após a tomada de posse, não parece existir qualquer vício no acto em causa, uma vez que este tipo de declaração é frequente, ocorrendo anualmente como forma de reconhecimento de donativos a centenas de clubes e associações desportivas espalhadas pelo país. Assim, é errada qualquer tipo de censura à actuação do Secretário de Estado. Mesmo a acusação de "insensibilidade política" do membro do Governo deve, à luz da elevada recorrência da prática deste tipo de actos, ser minimizada, uma vez que é de todo normal que, mais cedo ou mais tarde, um deles fosse incidir num clube ou associação apoiado por um qualquer membro da Secretaria de Estado do Desporto e da Juventude.

Face ao exposto, deve-se condenar o tom algo acusatório com que a comunicação social foi dando a notícia, perpetuando interpretações e conclusões erradas, provavelmente priorizando o "sensacionalismo" e a notícia fácil ao rigor da informação.

por Nuno Miguel Igreja Matos

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